Pernambuco 1817 |
Por Diário de Pernambuco
Editorial de 08.08.2016
O outro lado do São Francisco
Com a reintegração da Comarca do São Francisco, Pernambuco teria novamente acesso imediato aos estados do Piauí, Maranhão, Goiás, Minas Gerais e Bahia
Há 56 anos, o Diário de Pernambuco participava da campanha da bancada do
estado para tentar reaver a Comarca do São Francisco, o território à
margem esquerda do rio que foi entregue a mineiros e baianos por Dom
Pedro I, em decreto assinado a 7 de julho de 1825, como punição pela
deflagração da Confederação do Equador. Vale lembrar que, em 1817, a
Comarca de Alagoas já havia sido desmembrada de Pernambuco após a
Revolução de 1817. Isso explica o fato de o homem que deu o grito do
Ipiranga não se tornar nome de logradouro na terra dos altos coqueiros.
O
território original pernambucano, que ia da Paraíba ao norte de Minas
Gerais, havia sido instituído em 1534 pelo rei Dom João III. Com a
reintegração da Comarca do São Francisco, Pernambuco teria novamente
acesso imediato aos estados do Piauí, Maranhão, Goiás, Minas Gerais e
Bahia, alcançando uma área total de 200 mil quilômetros quadrados, mais
que o dobro do que é atualmente.
O primeiro apelo dos
pernambucanos foi feito ao imperador Pedro II, em 1859. Em 1940 e 1945,
no tempo do governo provisório de Getulio Vargas, ocorreram novos
pleitos. Com a Constituição de 1988, Fernando de Noronha voltou a
Pernambuco. Outras terras, não.
A questão da Comarca do São
Francisco estava registrada na Constituição de Pernambuco em 1947. O
território passou a pertencer, inicialmente a Minas Gerais, por decreto
imperial, passando para a Bahia “de forma provisória” em 1827.
Os
jornalistas e historiadores Mário Melo, Flávio Guerra, Gonçalves Maia e
Pereira da Costa escreveram livros sobre o tema, sempre advogando a
correção de um erro histórico.
A reivindicação pernambucana por
seu antigo território devia-se ao monsenhor Arruda Câmara, deputado que
queria corrigir uma “ingratidão” da República em relação a uma punição
injusta praticada na época do Império. O Diario registrou a luta do
religioso através de uma série de reportagens assinadas por Severino
Barbosa. Nelas, políticos e magistrados defendiam a reanexação.
Em
editorial assinado no dia 6 de julho de 1961, Aníbal Fernandes
demonstrava que um ano e meio de discussões não resultaria em vitória.
“Não creio que nada se modifique. Fez-se a República; e o regime que
ascendera ao poder, com o sangue do padre Roma, de Frei Caneca e do
padre João Ribeiro, não deu um passo para demovê-lo. Fez-se uma
Revolução, que se dizia não vir para perdoar, mas para punir (punir os
ladrões, punir as injustiças, corrigir os erros) e nada fez”. E assim se
fez. Mais uma vez.
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